sexta-feira, 13 de junho de 2008

para eles

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só tem noção de distância quem entende da geometria de partilhar intimamente os momentos bons e os momentos difíceis. eu moro sob o mesmo teto de duas pessoas que vivem muito perto de mim.

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carta que eu deixei na porta da geladeira hoje:

caros amigos de fé, irmãos camaradas,

esta tarde, logo após acordar de minha inexorável terceira visita ao hospital, estive em frente ao vosso refrigerador e vi-me obrigada a furtar alguns de vossos artigos de gênero alimentício (al-alimentos). foram várias bolas de nhoque, quatro ou cinco pacotinhos recheados, um resto de molho de tomate, os últimos goles de um fortúito del valle encontrado na porta do eletrodoméstico (cuja embalagem, neste momento, jaz na superfície de nossa lixeira) e, por fim, desirmanei uma fina fatia de mozzarela de sua ainda mais franzina acompanhante, deixada ardilosamete para trás.

peço imensas desculpas e insisto que o pequê-Li se utilize da minguada quantia monetária oferecida ontem, por mim, para cobrir estes indelicados desfalques. sei que o abalo psicológico provocado por estas atitudes é bem mais dispendioso de ser coberto, porém, para tanto, podeis contar com todo o amor e respeito de vossa entrevada companheira de estrada e de vida.

com atencioso carinho,
da carulina

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eu sei que andei espalhando amor por aí. e tenho certeza que estou recebendo muito mais do que esperava agora. obrigada.


em 12.01.2007


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para elas

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para vozinha, dindinha, tia iracema, bibi, bitiz e vó arminda.

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há quem não entenda meu gosto por mulheres mais velhas, acontece que eu só acredito nelas.
e só a elas consigo proteger do mundo mau com as minhas gracinhas.

faço isso me aproveitando inescrupulosamente dos seus olhares embotados de fascínio, enganados pela minha habilidade na representação de inocência.

desta forma, planejo, certeira e artificiosa, cada gesto encantador para retribuir, agradecida, o conforto do qual elas se despojaram para abraçar a dor de amar uma pessoa nova.

especializei-me em criancices para distraí-las e, no meio da confusão, ir renovando, advertidamente, o pacto familiar que faz da dor de cada uma delas a minha própria dor.
até o fim dos nossos dias juntas.
das nossas fotos juntas.
da nossa história antepassada e futura.
juntas.

e, servindo-me de ludibriosa perfeição, calculada imperfeição e incontestável devoção, despedirei-me das mulheres de minha vida, uma a uma, arrumando-lhes as flores e esperando ter-lhes trazido alguma alegria.

em 03.05.2007

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